O século XXI continua carente de estadistas, pessoas capazes de pensar o mundo e tomar medidas que vão além do seu tempo. Segundo Aristoteles esse tipo de perfil produz um certo caráter de moral nos seus concidadãos, e estimula uma liderança política baseada na sabedoria e acima das limitações pessoais e partidárias.
Vladimir Vladimirovitch Putin com seus 70 anos, nascido em Leningrado e atual Presidente da Rússia não possui esse perfil, mas destaca-se por entender de jogos de guerra e capacidade de provocar seus adversários até as últimas consequências.
Homem da área de inteligência, dissimulado, foi agente da poderosa agência do serviço secreto, KGB, onde desenvolveu o tipo de liderança agressiva que pratica. Foi presidente da Russia entre 2000 e 2008, além de ter sido primeiro-ministro em duas oportunidades, a primeira entre 1999 e 2000, e a segunda entre 2008 e 2012.
Faz questão de projetar uma imagem pública de militar, homem viril, e praticante de artes marciais. Estimulou o esporte russo e empenhou-se em transformar a cidade de Sochi em sede dos Jogos Olímpicos de 2014.
Seu primeiro governo foi marcado por profundas reformas políticas e econômicas, pelo estatismo, e por tensões com os Estados Unidos e a Europa Ocidental. Seu estilo lembra o regime ditatorial soviético e o czarismo. Centralizador ao extremo, não abre mão de suas prerrogativas, como fez na Chechênia onde restaurou o controle russo. Os serviços de inteligência ocidentais o responsabilizam pelo assassinato por envenenamento de vários de seus opositores políticos, como Anna Politkovskaia e Alexander Litvinenko.
Nesse período de governo a economia russa teve um aumento de 72% no PIB. Conquistas atribuídas à gestão macroeconômica, à importantes reformas fiscais, ao aumento do fluxo de capitais, ao acesso às finanças externas de baixo custo e a um aumento de cinco vezes no preço do petróleo e do gás, que constituem os principais produtos de exportação da República Russa, um dos fatores atuais do conflito que se inicia.
Importante salientar que lidou com mão de ferro sobre os setores estratégicos que, desde a queda do comunismo estavam nas mãos dos oligarcas russos.
Enfrentou de peito aberto a OTAN na questão do estabelecimento de mísseis no Leste Europeu e criticou a política internacional norte-americana, e o apoio russo aos separatistas na Ucrânia, após este país ter se alinhado à Aliança Atlântica. Origem remota da guerra que se inicia.
Mas, acima de tudo, o ex agente da KGB é um exímio jogador de xadrez. Mexe as peças com tanta sutileza que a atual e titubeante administração americana não percebe por inteiro. Não sabendo decifrar duas ou três jogadas adiante e com o cisco ideológico nos olhos, os atuais dirigentes americanos não foram capazes de perceber que os cavalos saltando pelas laterais do tabuleiro internacional tinham alvos múltiplos e de longo alcance que chegam onde nem os mísseis mais modernos são capazes de atingir.
Putin, militar experiente, moveu seus peões no momento certo, à ponto de expor o quociente emocional do homem mais poderoso do mundo. E não ficou por aí, seus bispos neste jogo de xadrez excursionaram para a China e para América Latina, como que a dizer, tenho aliados fortes e também posso fazer incursões na sua vizinhança.
Ora, só os tolos poderiam ser capazes de admitir que a intenção de Putin é de baixo alcance. Ao bombardear a Ucrânia chama seus adversários para briga em território conhecido. Maneira estranha – dizem os mal enfronhados em questões estratégicas – de defender o oleoduto Nord Stream 2, artéria vital e galinha dos ovos de ouro da economia russa. A empresa estatal russa de gás Gazprom é a proprietária desse gasoduto, tendo assumido mais de metade dos custos do projeto de cerca de 9,5 mil milhões de euros. Os custos restantes foram financiados por um consórcio europeu de empresas incluindo a OMV, da Áustria, a alemã Wintershall Dea, a francesa Engie, a Uniper, da Alemanha, e a Shell, do Reino Unido
Volodymyr Olexandrovytch Zelensky, roteirista, ator, comediante, diretor cinematográfico e desde 2019 presidente da Ucrânia, figurista secundário dessa trama internacional, bem que tentou mudar de posição ao perceber que poderia estar fazendo um papel de marionete, mas já era tarde demais Nos bastidores procurou canais de dialogo com seu poderoso vizinho. Afinal, Zelensky, sempre admitiu que a invasão não era o objetivo imediato dos russos, mas temia, uma vez saber que ditadores, mesmo blefando, deixam um rastro de pólvora por onde passam
Não resta dúvida que quando o Sr. Putin senta na frente de um contendor é para jogar xadrez, pena que hoje seu principal adversário esteja perdido pensando que o tabuleiro é de damas.
José Roberto de Souza Dias / Joe Bob, PhD Two Flags Post Founder, Publisher & Editor-in Chief Journalist, Mtb 0083569 / SP/BR, Master in Economic History and PhD in Human Sciences at the University of São Paulo, Doctor Honoris Causa at the Faculty of Social Sciences of Florianópolis – Cesusc.