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Os versos de Cálice, eternizados por Chico Buarque e Gilberto Gil, são mais do que uma melodia; são um grito contra o autoritarismo e a censura que marcaram o século XX. No entanto, o que era um hino de resistência contra a opressão militar ressurge hoje como um lembrete amargo das contradições humanas. Aqueles que, no passado, empunharam a bandeira da liberdade de expressão e cantaram contra a repressão, agora protagonizam atos semelhantes aos de seus antigos algozes.
A cultura do cancelamento, que muitos justificam como forma de responsabilizar os poderosos, tornou-se uma ferramenta de silenciamento. Sob o pretexto de combater discursos nocivos, ergue-se um novo tipo de ditadura, menos explícita, mas igualmente perigosa. Ela começa com o ataque às palavras, evolui para a censura de ideias e culmina em punições mais severas, como prisões arbitrárias e a expulsão forçada de opositores.
A história está repleta de ironias. Os que sofreram perseguições, exílios e torturas no passado agora se colocam como juízes, replicando as mesmas práticas autoritárias em nome de um novo discurso moral. “Pau que bate em Chico, bate em Francisco”: a lição da reciprocidade do poder é ignorada, enquanto a roda da opressão gira mais uma vez.
O que esse ciclo revela é a falta de aprendizado e a ausência de um elemento essencial: o perdão. A música nos lembra disso ao declarar, com a simplicidade de uma constatação: Esqueceu-se de inventar o perdão. Sem ele, continuamos a perpetuar a violência, trocando apenas os protagonistas do palco autoritário.
A nova ditadura da cultura woke, camuflada em pautas de inclusão e justiça, não apenas replica as injustiças do passado, mas também as amplia, utilizando a tecnologia e as redes sociais como amplificadores de controle. Cancelar alguém é mais do que calar; é desumanizar, excluir e apagar qualquer possibilidade de diálogo ou redenção.
É fundamental relembrar o que motivou a luta por liberdade no século XX: o desejo de viver em uma sociedade onde todos pudessem falar, discordar e conviver. O cancelamento não é justiça; é vingança disfarçada. A censura, mesmo quando apoiada por muitos, não é proteção; é fragilidade institucional.
Precisamos resgatar a essência da democracia: uma convivência onde o perdão não seja esquecido e onde a liberdade, como valor supremo, seja garantida até mesmo para quem pensa diferente de nós. Pois, como a música já denunciava, a escuridão é inventada, mas a luz — essa sim — deve ser compartilhada.
Importante salientar, que este tema foi sugerido pela jornalista Eliana Camargo, Mtb 0083568/SP/BR , cofundadora e correspondente internacional do Two Flags Post.
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Darkness and Return: The Scales of Justice and the End of Hypocrisy
The verses of Cálice, immortalized by Chico Buarque and Gilberto Gil, are more than a melody; they are a cry against authoritarianism and the censorship that marked the 20th century. However, what was once a hymn of resistance against military oppression resurfaces today as a bitter reminder of human contradictions. Those who, in the past, raised the banner of freedom of expression and sang against repression are now engaging in actions similar to those of their former oppressors.
Cancel culture, often justified as a means of holding the powerful accountable, has become a tool of silencing. Under the guise of combating harmful speech, a new kind of dictatorship has emerged—less explicit but equally dangerous. It begins with attacks on words, escalates to the censorship of ideas, and culminates in harsher punishments such as arbitrary arrests and the forced expulsion of dissenters.
History is rife with irony. Those who once endured persecution, exile, and torture now stand as judges, replicating the same authoritarian practices in the name of a new moral discourse. “What is done to one can be done to another”—the lesson of power’s reciprocity is ignored as the wheel of oppression turns once more.
This cycle exposes a lack of learning and the absence of a crucial element: forgiveness. The song reminds us of this with its simple observation: They forgot to invent forgiveness. Without it, we perpetuate violence, merely changing the protagonists of the authoritarian stage.
The new dictatorship of woke culture, cloaked in agendas of inclusion and justice, not only replicates past injustices but magnifies them, leveraging technology and social media as amplifiers of control. Canceling someone is more than silencing them—it is dehumanizing, excluding, and erasing any chance of dialogue or redemption.
It is essential to recall what motivated the fight for freedom in the 20th century: the desire to live in a society where everyone could speak, disagree, and coexist. Cancel culture is not justice; it is disguised vengeance. Censorship, even when supported by the majority, is not protection; it is institutional weakness.
We must reclaim the essence of democracy: a coexistence where forgiveness is not forgotten, and freedom, as a supreme value, is ensured even for those who think differently from us. For as the song denounced, darkness is man-made, but light—true light—must be shared.
It is important to note that this theme was suggested by journalist Eliana Camargo, Mtb 0083568/SP/BR, co-founder and international correspondent of Two Flags Post.
Belo texto.
Descreve o poder exclusivo e abusivo de um Supremo Tribunal sobre tudo e sobre todos, que por conseguinte exclui todas as estâncias intermediárias asseguradoras do direito de defesa viventes na Lei. Pelo que se percebe, o fantasma do autoritarismo de toga nos ronda… E já se pode imaginar suas consequências…