Woody Allen, reconhecido cineasta e roteirista de grande talento, lançou nos Estados Unidos em 1970 e no Brasil em 1998, uma de suas principais obras cinematográficas, intitulada “Desconstructing Harry” (Desconstruindo Harry), na qual, com grande maestria, desenvolve uma narrativa em que o principal personagem, que coincidentemente é, dramaticamente, representado pelo próprio Woody Allen, encarna a figura de um consagrado escritor, chamado Harry Block, cuja vida pessoal é um caos em função de várias neuroses e conflitos, que ao longo dos tempos foram se agravando, por força de tratamentos de seus distúrbios psicológicos mal sucedidos, levados adiante por 6 psiquiatras, e devido a intercorrências de 3 casamentos frustrados
Resumidamente, o enredo da obra se desenvolve em um contexto no qual o protagonista empreende uma viagem, na companhia de uma ex-colega de faculdade, para a cidade onde se situa a Universidade em que ambos estudaram.
Somente a sua amiga logrou concluir o curso, já que Harry teria sido expulso da Instituição, por assumir posturas e adotar atitudes tidas como “revolucionárias” e “antissociais” e, curiosamente, iria ser homenageado por seu trabalho literário.
Nessa conjuntura, o então renomado escritor, que até aquele momento vinha travando uma árdua batalha com seu transtorno psicologico que apresentava no mínimo, 20 facetas de sua personalidade (muitas delas representadas pelos atores que compõem o elenco do filme), que, sistematicamente. bloqueavam a sua criatividade.

Passa a expor as contradições e as influencias adversas exercidas pelos traços de seu ego, com o propósito de anular seus efeitos, dando início a um presumido processo de desconstrução de sua personalidade, que na verdade se configura como uma espécie de “eliminação de engodos” que ao longo dos tempos foram forjados em sua mente.
Guardadas as devidas proporções, a realidade vivenciada pelo fictício personagem no filme (Harry), pode ser transportada para o momento atual pelo qual passa a humanidade, pois vários engodos foram criados e impostos no ideário dos seres humanos, ao longo dos tempos.

Talvez com o objetivo de capturar e aprisionar mentes e corações, com vistas à implantação de um projeto político de dominação social, instituído por intermédio de um regime político que, sob um aparente e espúrio “manto” de igualdade de oportunidades sociais, visa na verdade, instituir uma perene ditadura.
Cabe, neste momento, levar adiante uma verdadeira “cruzada”, em prol do resgate das mentes e dos corações das novas gerações, que foram ou estão em processo de dominação. Desmascarar ideologias fundamentadas no engano e na mentira para, finalmente, através do esclarecimento que, obrigatoriamente, passa por um processo educativo dos membros das gerações que nos sucederão. Esta cruzada provocaria uma verdadeira desconstrução da sociedade, na qual, desafortunadamente, nos inserimos, que priva o homem de sua liberdade e de desfrutar das benesses propiciadas por uma democracia verdadeira.
Fonte: https://cinemaemcena.com.br/critica/filme/7038/desconstruindo-harry
André Garcia Martin, é arquiteto e estudioso das “coisas” do Brasil e do Mundo