O Brasil está se tornando, cada vez mais, um espelho dos Estados Unidos no que se refere ao acessório e progressivamente, mais distantes no essencial.
A construção dos Estados Unidos apoiou-se na sua única e uma Constituição aprovada em 1787. Com sete artigos e vinte e sete emendas é a mais curta do mundo. Todas as suas cinco páginas originais estão escritas em pergaminho e continuam em vigor há 235 anos.
A Constituição brasileira, ao contrário, é de 1988, a sétima da História, possui 250 Artigos, 123 emendas e dois tratados internacionais. Considerada a segunda maior do planeta, perde apenas para à Índia, e está vigente há 34 anos.
Espantoso verificar que ao longo da República as constituições, com um número volumoso de artigos e emendas, não foram capazes de estancar as crises, a corrupção, modernizar o Estado e alavancar o desenvolvimento social e econômico , e sim, permitiu que fragilizassem a democracia e o estado de direito entre nós.
Dessa forma, no essencial, continuamos distantes da maior democracia do mundo, onde a liberdade de imprensa é sagrada, inclusive nas jovens redes sociais por onde hoje flui o pensamento da sociedade contemporânea. Na América qualquer tipo de controle social da mídia é visto como um atentado aos direitos civis.
Ora, ao livre pensar, o livre empreender, o livre fazer e distribuir, é que garante o desenvolvimento econômico e social dos Estados Unidos.
No que diz respeito ao que é acessório os brasileiros assimilam rápidamente o modelo distribuido pela poderosa máquina de propaganda e de publicidade dos norte americanos.
É o caso da atual pauta de costumes adotada pelas Big Techs, que são as grandes empresas de tecnologia que dominam o mercado. Majoritariamente localizadas no Vale do Silício, elas começaram como pequenas startups, criando serviços inovadores, disruptivos e escaláveis.
Na prática, elas passaram a moldar a forma de trabalho e comunicação entre as pessoas, bem como o comportamento dos consumidores.
Segundo a consultoria Sottelli, essas gigantes de tecnologia fazem parte do dia a dia dos brasileiros. Nas redes sociais, nos aplicativos de motoristas, no streaming de vídeo e, pode-se afirmar, até na escolha dos governantes. O maior objetivo delas é atender às demandas do consumidor e, principalmente crescer ainda mais, dominar mercados e mentes.
Um dos desdobramentos naturais dessa influência se pode perceber durante e após a pandemia, quando milhões de pessoas foram proibidas de sair as ruas e dependeram dos aplicativos e dos entregadores de mercadorias para receber em casa remédios, alimentos e até água.
A consequência trágica foi o aumento dos acidentes de trânsito envolvendo pedestres, motos e bicicletas. Exatamente entre os usuários das vias que são considerados os mais frágeis e que são também, os que menos respeitam as normas de trânsito.
As pessoas premidas por seus compromissos passaram a adotar o péssimo hábito alimentar dos americanos. Consomem fast food e, na sua maioria, usam os serviços de entrega rápida. Muitas dessas empresas estimulam seus entregadores a cumprirem seus compromissos com o máximo de agilidade.
A consequência não podia ser outra, aumento no número de acidentes. Hoje em grande parte das cidades brasileiras motociclistas e ciclistas não respeitam a sinalização de trânsito, circulam na contramão, não param nos faróis e pior ainda, circulam nas calçadas colocando em risco suas vidas e de terceiros. As autoridades, fora legitimas exceções, não tomam nenhuma providência enquanto o número de feridos e mortos só se faz crescer.
No que tange ainda a ascendência das big techs deve-se ater que trazem embutido o vírus da chamada nova ordem mundial, tão bem explicitada por Henry Kissinger em sua obra World Order publicada em 2014. Configurava-se, assim, muito do que assistimos atualmente e que encoraja os cidadãos brasileiros a pronunciarem com vigor democrático a palavra Basta!
O aspecto positivo dessa influência está no que acontece hoje no Brasil, quando milhões de cidadãos se comunicam pelas redes sociais, vão pacificamente às ruas demonstrar sua indignação, exigir soluções em um movimento que já é conhecido mundo afora como “Primavera Brasileira”.