Em maio deste ano de 2023, na companhia de meus familiares, empreendi uma viagem para os Estados Unidos da América, e um dos procedimento padronizados, em particular, informado pelo comissário de bordo, quando este fazia a “demonstração padrão” acerca do uso correto dos equipamentos de socorro e emergência, e da maneira correta como os passageiros deveriam se comportar no caso de uma descompressão súbita ou um pouso de emergência, me remeteu a uma profunda reflexão.
Embora admita que por diversas vezes em que tive a oportunidade de viajar, fazendo uso de aeronaves, tenha sumariamente ignorado a demonstração dos comissários de bordo, desta vez, por alguma razão, prestei a devida atenção, e foi exatamente um detalhe, que em regra passa despercebido, no procedimento que orienta o correto uso das máscaras de oxigênio, que automaticamente “caem” sob os passageiros, no caso de uma descompressão súbita, que me chamou a atenção, e me conduziu ao seguinte questionamento: Por que razão, em primeiro lugar, devemos colocar a máscara em nós mesmos, e em ato contínuo em alguma criança ou deficiente que esteja ao nosso lado no momento do sinistro?
Não obstante, e de maneira desinteressada, tenha visto tal procedimento por inúmeras vezes, desta vez que agora tenho a possibilidade de relatar, foi a primeira na qual afastei definitivamente um preconceito que até aquele momento guardava em meu inconsciente que, em linhas gerais, consistia no fato de não concordar com o “modus operandi” de colocar a máscara primeiramente em mim, para a seguir colocar a máscara em outra pessoa. Sempre considerei a atitude de em um primeiro momento pensar em mim, em detrimento do semelhante, como desrespeitosa e egoísta, porém a reflexão que tive a oportunidade de efetuar, após vislumbrar tal procedimento, me fez mudar de opinião, pois além de compreender, do ponto de vista técnico, a razão do ato, também tive a oportunidade de levar adiante a meditação que adiante irei relatar.
Em primeiro lugar, cabe esclarecer que a falta de oxigênio súbita faz com que a pessoa perca a consciência de seus sentidos, ou seja, desmaie rapidamente, e é exatamente com a finalidade de manter a lucidez nesses momentos críticos, com o propósito de auxiliar e, porque não dizer também, salvar a vida da pessoa que estiver ao seu lado que, do ponto de vista técnico, é imprescindível que, em um primeiro momento, manter a própria lucidez, coloquemos a máscara em nós mesmos, para a seguir colocar a máscara em um terceiro que esteja ao nosso lado. Posto isto, passemos ao segundo, e talvez mais profundo aspecto da reflexão que tive a oportunidade de realizar.
Quando jovens, lá pelos idos das décadas de 1960 e 1970, estávamos imbuídos do sentimento de empreender ações “revolucionárias”, com o objetivo de “mudar o mundo”, muito embora, na prática pouca consciência tínhamos do real significado de uma “ação revolucionária”, e muito menos do que especificamente queríamos mudar no mundo. Tal contexto, atualmente me remete ao entendimento de que a falta de conhecimento (qualificação teórica) aliado à ausência de um objeto específico que seria passível de mudança, fazia com que naquele momento fossemos, digamos, “românticos e sonhadores”, pois na verdade éramos rasos ou mesmo incipientes de cultura, e tal situação poderia culminar na realização de atos pueris, cujas consequências poderiam ser imprevisíveis a curto ou longo prazos.
Traçando um paralelo com o procedimento padrão de, em primeiro lugar, colocar a máscara em nossa face em detrimento de um terceiro, ouso afirmar que se ao invés de pensar no coletivo, tivéssemos primeiramente pensados em nós, muitos equívocos que cometemos poderiam ter sido evitados ou até minimizados. Em síntese: Além de não atentarmos para a necessidade de aprimorar nosso conhecimento, também não realizamos um panejamento prévio das ações, ou seja, não vislumbramos aquilo que efetivamente era passível de mudança para, a partir dessa ponderação viabilizar a realização de operações pontuais específicas.
Data vênia, também cabe registrar que a reflexão que naquele momento tive a oportunidade de levar adiante, não se limitou, exclusivamente, aos aspectos culturais e estratégicos relatados no parágrafo acima, uma vez que também enveredou no campo espiritual. Explico melhor: Graças às “luzes esclarecedoras” que recentemente chegaram ao meu conhecimento, propiciadas através de inserções mais aprofundadas em um antigo conhecimento, que há tempos venho estudando, denominado Cabala. Para aqueles que não estão familiarizados com esse tema, resumidamente informo que se trata de uma sabedoria que, como já dito, é muito antiga, anterior inclusive ao surgimento do povo hebreu e à conquista da Terra de Israel. Uma compreensão que não se limita à literalidade de um saber ou mesmo à externalidade manifesta no mundo material, e que reputo como libertária, em meu modesto entendimento pois acima de tudo se configura como uma ciência, que propicia uma visão dos fatos a partir de algo que se tornou conhecido como “aspectos internos” ou internalidade manifesta no mundo espiritual e psíquico dos seres humanos.
Graças à possibilidade de “superar fronteiras físicas”, propiciada pelo advento da internet, tive a oportunidade de compreender com mais profundidade os assuntos que compõem a referida sabedoria, uma vez que a partir e vídeos veiculados no âmbito do Youtube, especificamente no canal https://www.youtube.com/@academiadecabala, tomei conhecimento da existência de uma linha cabalista muito interessante, conhecida como “Cabala Ancestral’, cujo principal difusor é um Mestre Cabalista chamado Mario Meir, que preside uma comunidade sediada na cidade do Rio de Janeiro, denominada Academia de Cabala (https://www.academiadecabala.com/), e foi exatamente nesse “lócus” que mais do que encontrar respostas contundentes a velhas indagações sobre o tema pude, de fato, me conscientizar de que somente a partir da promoção de profundas e significativas retificações em nosso espírito e personalidade é possível, como ato subsequente, contribuir para a realização de mudanças no mundo, e é exatamente por essa razão que ouso afirmar que o ensinamento propiciado pelo comissário de bordo foi relevante, ou seja: Somente a partir do momento em que, preliminarmente, colocarmos a máscara de oxigênio em nossa face, será possível acudir terceiros”.
Se almejamos ser agentes transformadores no mundo precisamos, criar condições, para deixar de ser membros no “mundo dos efeitos”, e ingressar no “mundo das causas”, e para tanto é necessário, preliminarmente, todas as retificações que vierem a ser necessárias em nosso espírito e psiquê.
Como término desse relato, adiante transcreverei um pensamento que também foi exarado por um cabalista, que tive a oportunidade de conhecer pessoalmente em 1999, chamado Wanderley Paes:
“Conhecer os meandros do Poder[1] é o primeiro passo para passar dos chamados círculos externos dos efeitos, para os internos das causas. É o início de um processo, a partir do qual deixamos de ser meros expectadores da história e nos convertemos em agentes transformadores”.
[1] Registre-se que o “Poder” citado na frase se relaciona com o Poder interno do ser humano, aprimorado pelas retificações que obrigatoriamente devem ser feitas no âmbito espiritual
Texto Produzido pelo Arquiteto e Urbanista e Mestre em Estruturas Ambientais Urbanas André Garcia Martin.