O jornal O Estado de São Paulo, como sempre prima pela qualidade de suas informações e análises e faz jus aos seus fundadores que nos momentos mais críticos da História nunca se furtaram a defender a verdade, afinal esse é o caminho mais curto entre as pessoas.
O Governo, se é que ainda assim pode ser chamado, foi pego de calças curtas pelo movimento dos caminhoneiros. Não tendo como explicar o sofrível e quase amador trabalho de suas agências de inteligência, incapaz até de identificar as lideranças mais expressivas do movimento, acabou por cair numa esparrela, negociando de início com as grandes confederações e federações que representam setores minoritários do movimento e não tem, em absoluto, qualquer poder de mando no rumo dos acontecimentos.
Ministros grandiloquentes passaram a gargantear que um acordo havia sido estabelecido e que no dia seguinte as coisas estariam normalizadas pois os caminhoneiros – que não estavam presentes na reunião – tinham aceito os termos do acordo.
A realidade nas estradas era bem diferente da divulgada pelo Planalto. Pegos na mentira, passaram a usar a velha e desgastada estratégia dos perdedores, arrumar um bode expiatório, assim como é típico desse tipo de gente, em vez de assumirem os próprios erros, colocaram o dedo em riste apontando os empresários como responsáveis pelo que identificavam como locaute, crime tipificado em Lei.
O prestigiado jornal paulista desmonta a farsa, ao afirmar que o suposto locaute esbarra na pulverização do setor, com uma frota de quase 1,1 milhão de veículos de transporte de carga, dividida em mais de 100 mil empresas, cuja líder do mercado tem menos de 1% do total da frota, é praticamente impossível lidar com tal hipótese.
Segundo padrões internacionais, o locaute só se caracteriza, no momento que um grupo de empresas consegue paralisar a economia para obter vantagens para o grupo.
Ora, tal fato não corresponde a realidade do setor, ou então vejamos. As 10 maiores empresas de transporte de carga detém, nos dias de hoje, cerca de 30 mil veículos. Para se ter uma idéia, se tais veículos fossem apreendidos e tirados das vias obstruídas, pouco afetaria, uma vez que 97% da frota continuaria parada nas estradas em continuidade as manifestações, como aliás prossegue.
Existem empresas de porte, mas são uma minoria, a maior parte é formada de pequenas empresas de estilo familiar, com dois, três ou quatro caminhões, que são dirigidos, por filhos, cunhados, parentes e, eventualmente, por empregados fora do círculo familiar. Segundo dados da CNT 55% dos que transportam para as grandes empresas o fazem para esses pequenos negócios familiares.
Se considerarmos os transportadores autônomos, esse universo pulveriza-se ainda mais, pois são aproximadamente 554 mil caminhões nas mãos de 374 mil motoristas.
Por essa razão, é uma mentira deslavada considerar o vitorioso movimento dos caminhoneiros como locaute. Na verdade é a mais expressiva manifestação da sociedade brasileira. Posso afirmar, com conhecimento de causa(*), que é uma manifestação pura e autêntica de trabalhadores autônomos e de pequenas empresas familiares que vivem de seu trabalho, que estão atolados por impostos municipais, estaduais e federais, que recebem migalhas de um frete que não lhes permite manter seus caminhões, pagar um diesel dos mais caros do mundo, e ainda tentar levar para casa o que lhes dê um sustento decente.
Os caminhoneiros brasileiros mantem-se, patrioticamente parados, por uma simples razão: parados ganham mais, não tem o que temer, nem querem mais Temer.
José Roberto de Souza Dias – Two Flags Post Founder, Publisher & Editor-in Chief Journalist, Mtb 0083569 / SP/BR, Master in Economic History and PhD in Human Sciences at the University of São Paulo, Doctor Honoris Causa at the Faculty of Social Sciences of Florianópolis – Cesusc
(*) Foi Diretor do Departamento Nacional de Transito – DENATRAN e Coordenador Nacional do Programa PARE de Redução de Acidentes de Trânsito, atuou intensamente com os caminhoneiros brasileiros.