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A sanção que revela o colapso de um dos pilares da República
Não foi a corrupção, tampouco a censura. Não foi a violência política nem o populismo. O que despertou o olhar do mundo livre sobre o Brasil foi algo mais grave, mais profundo e mais estrutural: a ruptura da lógica republicana por um dos poderes da República, que abandonou seu papel de árbitro para assumir o de combatente.
A sanção internacional imposta por uma nação do Ocidente não se baseia em convicções ideológicas ou simpatias políticas. Não é um julgamento sobre esquerda ou direita. É um alerta institucional. E o motivo central é simples: quando o poder que deveria garantir a imparcialidade da Justiça se converte em instrumento de um lado do campo político, a democracia se desfigura. E o mundo reage.
Por quase duas décadas, o país conviveu com alternâncias fictícias no poder. Entre um interregno e outro, o mesmo projeto de poder persistiu, apenas trocando de pele. Mas foi no recente ciclo político que uma engrenagem crucial da democracia, aquela que deveria vigiar os excessos dos demais, passou a atuar fora dos trilhos constitucionais. A toga, que deveria ser escudo da liberdade, tornou-se espada contra a divergência. A imparcialidade foi substituída pela seletividade. A legalidade cedeu espaço à conveniência ideológica.
O mundo, cansado de discursos ocos sobre “democracia plena”, começou a enxergar a real natureza do regime. O gesto de punir uma figura de alta posição é simbólico, mas não isolado. Representa um recado aos que, sob o pretexto de proteger a ordem, minam os pilares da liberdade. É uma advertência velada ao desequilíbrio institucional, onde um dos poderes acumula funções que não lhe pertencem: legisla, investiga, julga, censura, pune e sempre os mesmos, sempre de um lado.
Não se trata de idolatria ou repúdio a este ou aquele grupo político. Trata-se de reconhecer que, quando o poder que deveria ser o último recurso se torna o primeiro instrumento de repressão, a república adoece. E o sintoma mais evidente desse adoecimento é a censura prévia, o cerco à imprensa livre, a perseguição às vozes dissonantes, a manipulação da verdade jurídica em nome de uma “narrativa oficial”.
Muitos ainda insistem em rotular toda crítica a esse processo como desinformação. Esquecem-se de que a democracia não é um fim em si, mas um método de convivência baseado no dissenso protegido. Quando o dissenso é criminalizado, o método falha e a democracia se converte em farsa.
A sanção imposta, embora tímida diante da gravidade dos fatos, é o primeiro gesto concreto de uma comunidade internacional que começa a enxergar além do verniz diplomático. Não é uma punição ao país. É um aviso ao poder que se desviou. Um espelho incômodo erguido diante daqueles que se julgam acima da Constituição, acima do voto, acima da própria sociedade.
É tempo de reflexão. E para quem vive no exterior, longe das amarras da narrativa única, o dever é redobrado: denunciar, informar, articular. Porque quando o guardião das leis se torna algoz da liberdade, é da voz dos exilados que nasce a esperança de reconduzir a nação ao seu eixo democrático.