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A Paz é Fruto da Coragem de Perdoar

domingo, agosto 10, 2025

Em tempos de polarização aguda e discursos cada vez mais carregados de ressentimento, as palavras do jurista e professor Ives Gandra da Silva Martins, aos 90 anos, soam como um chamado à razão. Na juventude, foi por pouco tempo membro do Partido Libertador, então presidido por Raul Pilla, atraído pelo ideal parlamentarista. Mas logo concluiu que sua verdadeira trincheira não seria na política partidária, e sim no Direito, na Academia e no exercício permanente da cidadania.

Desde então, Ives manteve-se fiel a valores que considera inegociáveis: família, fé, honestidade e amor ao Brasil. Recentemente, voltou a centrar sua fala num tema que, hoje, é crucial no Brasil e em outras democracias: a anistia. Para ele, concedê-la não é premiar culpados, mas abrir caminho para a pacificação nacional. É um gesto político e moral, inspirado em exemplos históricos que mostram que o perdão pode ser a ferramenta mais eficaz para reconstruir pontes.

Um desses exemplos vem de Juscelino Kubitschek, que, mesmo alvo de militares insurgentes em Aragarças e Jacareacanga, optou por anistiá-los. Impedido de disputar a Presidência, JK respondeu aos que o perseguiam não por reconhecer legitimidade nas acusações, mas por respeito ao povo brasileiro. “Nunca alimentei ódio”, afirmou, ensinando que a reconciliação é mais poderosa do que a vingança.

Outro exemplo citado por Ives é o de Michel Temer. Um mês após os acontecimentos de 8 de janeiro de 2023, o ex-presidente lembrou que, durante seu governo, o Congresso também foi invadido e depredado por manifestantes. Inspirando-se em JK, decidiu não punir os invasores, compreendendo que a pacificação serve ao país, não a interesses de facções.

O contraste com o presente é gritante. Muitos dos que hoje se levantam contra qualquer anistia foram, no passado, beneficiados por ela e não poucos receberam indenizações e bolsas pelos anos em que sofreram perseguição. Negar agora o mesmo direito a outros é perpetuar divisões e alimentar o ressentimento.

A anistia, quando aplicada com prudência e espírito democrático, não apaga a história. Mas permite que a nação siga adiante. É isso que Ives defende: um Brasil capaz de debater entre esquerda e direita sem ódio, num “patamar elegante”, como nas democracias maduras. Para ele, pacificar é condição para crescer, negociar melhor com as grandes potências, avançar economicamente e fortalecer instituições.

Sua mensagem, afinal, é clara: a paz é fruto da coragem de perdoar. Como recorda, Cristo veio pregar o amor e a reconciliação, e é esse espírito que deveria guiar o Brasil. Não a vingança travestida de justiça, mas o perdão como ato de grandeza nacional. Pois só assim poderemos virar a página e escrever um futuro digno do país que amamos

Peace is the Fruit of the Courage to Forgive

In times of deep polarization and rhetoric increasingly charged with resentment, the words of jurist and professor Ives Gandra da Silva Martins, now 90 years old, sound like a call to reason. In his youth, he briefly joined the Libertador Party, then led by Raul Pilla, drawn by the ideal of parliamentarism. He soon concluded, however, that his true trench would not be in partisan politics, but in Law, in Academia, and in the ongoing exercise of citizenship.

Since then, Ives has remained faithful to values he considers non-negotiable: family, faith, honesty, and love for Brazil. Recently, he has turned his attention to an issue that is now crucial both in Brazil and in other democracies: amnesty. To him, granting it is not about rewarding the guilty, but about opening the path to national reconciliation. It is a political and moral act, inspired by historical examples that show forgiveness can be the most effective tool to rebuild bridges.

One such example comes from Juscelino Kubitschek, who, despite being the target of military uprisings in Aragarças and Jacareacanga, chose to grant amnesty to his opponents. Barred from running for the presidency, JK responded to his persecutors not because he recognized legitimacy in their accusations, but out of respect for the Brazilian people. “I have never harbored hatred,” he said, teaching that reconciliation is more powerful than revenge.

Another example cited by Ives is that of Michel Temer. One month after the events of January 8, 2023, the former president recalled that, during his administration, Congress was also invaded and vandalized by protesters. Drawing inspiration from JK, he decided not to punish the invaders, understanding that reconciliation serves the country, not factional interests.

The contrast with the present could not be starker. Many of those who now oppose any form of amnesty were themselves beneficiaries of it in the past — and quite a few received financial compensation for the years they spent under persecution. To now deny the same right to others is to perpetuate division and fuel resentment.

Amnesty, when applied with prudence and a democratic spirit, does not erase history. It allows the nation to move forward. This is what Ives defends: a Brazil capable of debating between left and right without hatred, on an “elegant level,” as in mature democracies. For him, reconciliation is a condition for growth, for negotiating better with major powers, for economic progress, and for strengthening institutions.

His message is, ultimately, clear: peace is the fruit of the courage to forgive. As he reminds us, Christ came to preach love and reconciliation, and it is that spirit that should guide Brazil — not revenge disguised as justice, but forgiveness as an act of national greatness. Only then will we be able to turn the page and write a future worthy of the country we love.

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