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(Da Coleção Saber Essencial — Contos dos Peregrinos da Excelcia Luz)
Epígrafe
“Quem busca fora encontra reflexos;
quem busca dentro, encontra o espelho.”
Dedicatória
A todos os que trilham o Caminho do Silêncio e se descobrem na luz do próprio olhar.
Diz-se que há um vale além do tempo…
onde dois rios correm em direções opostas.
Um traz o murmúrio das origens… o outro o eco do destino.
Entre ambos, uma ponte estreita conduz a um campo onde cresce uma única árvore —
a Árvore do Conhecimento Silencioso.
Ninguém chega a ela sem antes ouvir o chamado do Olho.
Naquela noite sem horas, quando o firmamento se iluminava com signos e geometrias de fogo,
um homem de manto alaranjado despertou entre as montanhas.
Chamavam-no apenas o Peregrino,
porque nunca pertencia a lugar algum,
e em seus olhos ardia uma pergunta que nem os sábios ousavam formular.
Seguiu em direção ao horizonte,
onde o céu parecia abrir-se como um livro.
Em meio à senda, encontrou a Balança, imóvel sobre o chão de pedra.
Pesou-a com o olhar: um prato vazio, outro repleto de luz.
Compreendeu então que a justiça não se mede pelo peso,
mas pela harmonia.
Mais adiante, ao lado do rio que descia em cascata, viu o Silencioso —
um homem imóvel, envolto em névoa, que parecia ouvir o próprio coração.
“Que buscas, viajante?”, perguntou o Silencioso sem mover os lábios.
“O que todos buscam”, respondeu o Peregrino,
“o sentido daquilo que me observa.”
E o Silencioso sorriu:
“Então olha… mas não com os olhos —
olha com o centro do teu ser.”
O Peregrino seguiu,
e o caminho o levou até o Ancião, que guardava um livro aberto sobre os joelhos.
As páginas eram feitas de vento,
e nelas estavam escritas todas as vozes que já haviam sido ditas.
“Sou apenas o leitor”, disse o Ancião.
“Mas o autor… é aquele que te observa de dentro da luz.”
Nesse instante, o firmamento inteiro abriu-se.
E o Olho Solar, sereno e infinito,
desvelou-se sobre o céu.
Não era olho de carne, nem de fogo, mas de consciência
e via o que existia, o que sonhava e o que ainda dormia no ventre da criação.
O Peregrino caiu de joelhos,
não por medo, mas por reconhecimento.
E o Olho falou,
não com voz, mas com vibração que atravessava tudo:
“Aquele que busca fora, perde-se no reflexo.
Aquele que busca dentro, descobre o próprio espelho.
Pois Eu sou tu… e tu és o Caminho.”
Quando o amanhecer chegou,
a árvore tremulava dourada sob a nova luz.
Dois rios seguiam seu curso, agora unidos sob um mesmo canto.
E sobre o solo, restava apenas um bastão e um traço em forma de triângulo.
Dizem que, desde então,
quem fecha os olhos e escuta o silêncio pode ouvir um leve sussurro:
“A sabedoria não está no livro nem no mestre —
está no equilíbrio entre ambos.”