InícioBrazilO Petróleo do Crime

O Petróleo do Crime

sexta-feira, dezembro 26, 2025

Leia, Comente, Compartilhe…

Há crimes que não se anunciam com explosões nem com discursos, mas operam em silêncio, corroendo a ordem internacional por dentro. O tráfico ilegal de petróleo venezuelano é um deles. Não se trata de um episódio isolado, mas de uma engrenagem transnacional que conecta narcotráfico, lavagem de dinheiro, corrupção política e logística marítima clandestina. Essa estrutura é descrita com precisão técnica pelo ex-oficial de inteligência naval norte-americano Jesús Romero, em vídeo recentemente publicado pelo canal Agenda Español, cuja transcrição fundamenta este artigo

Romero fala sem slogans e sem ideologia. Com 37 anos de experiência em interdições aéreas e marítimas contra o narcotráfico, ele desmonta a falsa ideia de novidade em torno da chamada frota cinzenta. O método é antigo. Navios desligam sistemas de identificação, reaparecem com outros nomes e bandeiras, utilizam empresas de fachada e exploram a ausência deliberada de aplicação efetiva da lei no mar.

O ponto central é inequívoco. O petróleo sancionado da Venezuela nunca teve como destino o povo venezuelano. Ele não financiou hospitais nem escolas. Tornou-se moeda política, instrumento de pagamento de lealdades internas e elo direto com o narcotráfico. As mesmas rotas, os mesmos intermediários e os mesmos navios usados para transportar petróleo ilegal servem também para cocaína e, hoje, para fentanil, droga que mata milhares de norte-americanos todos os anos.

Esse diagnóstico não é isolado. Análises do Atlantic Council, do Center for Strategic and International Studies e relatórios do Congressional Research Service já indicavam, desde 2019, que a PDVSA havia deixado de funcionar como empresa energética para se transformar na caixa financeira do regime de Nicolás Maduro. A frota cinzenta e os buques zumbi não são desvios, mas parte estrutural desse modelo.

O que mudou agora não foi a existência das sanções, mas sua execução. Durante anos, elas permaneceram no papel. O sistema criminal adaptou-se e prosperou. A diferença atual está na interdição real. Abordagem, apreensão e confisco. Dois navios-tanque já foram desviados para o porto de Galveston, no Texas, cada um transportando cerca de dois milhões de barris de petróleo, além da inclusão de dezenas de outras embarcações em listas formais de busca e apreensão.

A acusação de pirataria feita pelo regime venezuelano não resiste à análise jurídica. Pirataria é ato privado, sem autoridade estatal. O que se observa é aplicação de direito internacional por um Estado com jurisdição, inteligência e respaldo político. O elemento central não é a bandeira do navio, mas a origem ilícita do petróleo.

Romero conecta essa dinâmica à política interna dos Estados Unidos. Ele aponta a resistência de setores do Partido Democrata a ações mais duras em administrações anteriores, crítica compartilhada por parlamentares que conhecem na prática as rotas marítimas do Golfo. A constatação é simples e desconfortável. Petróleo ilegal e narcotráfico pertencem ao mesmo ecossistema criminoso.

Na conclusão, impõe-se prudência. Circulam informações atribuídas a fontes próximas à Casa Branca sobre possíveis ações militares limitadas contra a Venezuela antes do fim do ano. Essas informações existem, mas ainda carecem de confirmação independente. O histórico recente mostra que expectativas de ataques diretos nem sempre se confirmam, enquanto ações ocorrem em outras frentes do tabuleiro global.

O que é verificável é a mudança de método. A estratégia atual não privilegia o ataque militar clássico, mas a asfixia financeira. Cortar o fluxo do petróleo ilegal significa retirar o oxigênio do regime, reduzir sua capacidade de sustentar aparatos repressivos e financiar redes criminosas. É menos ruidoso, porém historicamente mais eficaz.

Quando a impunidade no mar começa a ruir, os efeitos são sistêmicos. Regimes que sobrevivem da ilegalidade entram em tensão interna, redes criminosas se fragmentam e o discurso perde força quando o dinheiro deixa de circular. É nesse terreno silencioso, longe do alarmismo, que hoje se trava uma das disputas mais relevantes da geopolítica contemporânea.

Informar isso com rigor deixou de ser escolha. Tornou-se dever jornalístico.

Crime Oil

Some crimes do not arrive with explosions or slogans. They operate quietly, corroding international order from within. The illegal trade of Venezuelan oil is one of them. It is not an isolated episode but a transnational system linking drug trafficking, money laundering, political corruption, and clandestine maritime logistics.

This mechanism is explained with technical clarity by former U.S. naval intelligence officer Jesús Romero, in a recent video published by Agenda Español. Romero avoids ideology and speaks from experience. After decades of real-world air and maritime interdiction operations, he dismantles the idea that the so-called gray fleet is a recent or sophisticated innovation. The method is old. Ships turn off identification systems, change names and flags, use shell companies, and exploit years of weak law enforcement at sea.

The central point is unmistakable. Venezuela’s sanctioned oil was never meant for the Venezuelan people. It did not fund hospitals or schools. It became political currency, a tool to buy loyalty and a direct financial bridge to drug trafficking. The same routes, intermediaries, and vessels used to move illegal oil are also used to transport cocaine and, increasingly, fentanyl, now at the center of a deadly crisis in the United States.

This assessment is widely supported by international analysis. For years, reports from U.S. and European research centers have shown that PDVSA ceased to function as a normal energy company and became the financial backbone of the regime led by Nicolás Maduro. The gray fleet and so-called ghost ships are not deviations. They are structural features of that system.

What has changed is not the existence of sanctions, but their enforcement. For a long time, sanctions remained largely symbolic. Criminal networks adapted and thrived. The current shift lies in real interdiction. Boarding, seizure, and confiscation. Oil tankers have been intercepted and diverted to U.S. ports, with millions of barrels placed under American control, and dozens of additional vessels identified for enforcement action.

Claims of piracy by the Venezuelan regime do not withstand legal scrutiny. Piracy is a private act without state authority. What is occurring is the enforcement of international law by a state with jurisdiction, intelligence capability, and political backing. The decisive factor is not a ship’s flag, but the illegal origin of its cargo.

Romero also places this issue within U.S. domestic politics, noting past resistance to robust interdiction from sectors unwilling to confront the full scope of the problem. The uncomfortable reality is simple. Illegal oil and narcotics trafficking belong to the same criminal ecosystem.

Caution is required in assessing recent reports suggesting possible limited U.S. military action against Venezuela. Such claims, attributed to sources close to the White House, remain unconfirmed. Recent history shows that expected strikes often do not materialize, while pressure is applied through other, less visible means.

What is verifiable is a strategic shift. The emphasis is no longer on direct military confrontation, but on financial suffocation. Cutting off illegal oil revenue removes the regime’s oxygen, weakens its coercive apparatus, and disrupts criminal networks. It is quieter, but historically more effective.

When impunity at sea begins to collapse, the effects are systemic. Illicit regimes fracture internally, criminal structures erode, and propaganda loses force once the money stops flowing. Far from alarmism, this is the real terrain where one of today’s most consequential geopolitical struggles is unfolding.

Reporting it accurately is no longer optional. It is a journalistic obligation.

José Roberto Souza Dias, PhD
José Roberto Souza Dias, PhDhttp://twoflagspost.com
Co-Fundador, editor e editor-chefe do Two Flags Post Jornalista, Mtb 0083569/SP/BR, Mestre em História Econômica e Doutor em Ciências Humanas pela Universidade de São Paulo, Doutor Honoris Causa pela Faculdade de Ciências Sociais de Florianópolis - Cesusc /// Founder, editor, and editor-in-chief of the Two Flags Post Journalist, Mtb 0083569/SP/BR, Master's in Economic History, and Doctorate in Humanities from the University of São Paulo, Honoris Causa Doctorate from the Faculty of Social Sciences of Florianópolis - Cesusc.

Artigos Mais Recentes

Trump, o Brasil e a Ilusão dos Aliados

COMENTE E COMPARTILHE Quando a política externa deixa de ser ideológica e passa a ser...

O QUE NUNCA VAI EMBORA…

Há fotografias que não guardam apenas pessoas guardam atmosferas inteiras. Nesta, encontro o perfume...

Here Comes the Sun, Brasil

Há dias em que acordamos e percebemos que algo mudou, não no jornal, nem...

100 ANOS DE NILSON FIGUEIREDO – TAINHAS EM FESTA

Há vidas que atravessam o tempo como se fossem pontes, firmes, sólidas, construídas com...

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Mais como isso

Trump, o Brasil e a Ilusão dos Aliados

COMENTE E COMPARTILHE Quando a política externa deixa de ser ideológica e passa a ser...

O QUE NUNCA VAI EMBORA…

Há fotografias que não guardam apenas pessoas guardam atmosferas inteiras. Nesta, encontro o perfume...
00:03:12

Here Comes the Sun, Brasil

Há dias em que acordamos e percebemos que algo mudou, não no jornal, nem...

Novidades